16/01/2008


André Ferrer
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Outro dia, num daqueles espaços em branco retangulares que, nos blogs, são destinados aos comentários, fui provocado a informar as minhas inclinações políticas e ideológicas. Pelo teor da provocação, também conheci algo do meu interlocutor: duas, pelo menos, das suas principais facetas.


Em primeiro lugar, ele concordava com a perpetuação da CPMF, o ex-imposto patrocinador do populismo em voga, ou melhor, da permanente campanha eleitoral do partido-governo. Em segundo lugar, pertencia à mais nova Igreja De Cristo Agora Sim Comprometida Com A Verdade Em Detrimento Das Outras Religiões. Amigo do Criacionismo e da reclassificação da novela das oito, empenhava-se para convencer o mundo de que o macaco clone é uma obra do inimigo.


Nada mais irritante, pensei comigo. Eu esperava que um argumento evasivo e leve me ocoresse para espantar comprometimentos. O quê dizer a um “petulista” (mistura de petista, populista e petulante), que vive para desenterrar a velha choradeira bolchevique? E quando a mesma pessoa é um desses neoprotestantes que, invarivelmente, também são pregadores de jardim, teólogos por correspondência e analfabetos funcionais, e que sempre estão prestes a atacar a engenharia genética ou a defender a censura?! Para complicar, apresentei-me como iluminista.


— Iluminista?!


O sujeito não sabia. Tinha experiência com tucanos e macumbeiros. Era "versiculado e capitulado" nos mais efetivos argumentos contra os infiéis e as privatizações de Fernando Henrique Cardoso. De iluminista, no entanto, parecia nunca ter ouvido falar.
Justamente você, pensei comigo, cria de Lutero e Marx?! Você, cuja existência só é possível graças ao esforço iluminista desses dois alemães no que diz respeito ao direito à liberdade de pensamento e à informação?!


Ele não sabia. Lado a lado com a Bíblia e O Capital, em algum lugar da memória, não estariam Voltaire, a Bastilha, o rei recluso em Versailles, a guilhotina e o esfumado rosto de uma longínqua professora de quinta série? Inacreditável que uma pessoa tenha passado pelos bancos da escola sem se reconhecer, nem por um segundo, como herdeiro das Luzes! I-na-cre-di-tá-vel!


O Iluminismo, também chamado de Esclarecimento (Aufklärung, na língua alemã, Enlightenment, na inglesa, Illuminismo, em italiano, Siècle des Lumières, na língua francesa e, no espanhol, Ilustración), foi um movimento intelectual e filosófico surgido na segunda metade do século XVIII, tendo a Razão e a Ciência como formas de explicar o Universo. Após a sua disseminação, impulsionou a sociedade moderna, principalmente nos países protestantes, sendo gradual e lenta a sua influência nos países católicos. O capitalismo e, ironicamente, o marxismo são apropriadores das idéias alardeadas naquele período. Se a liberdade e a igualdade inspiraram a burguesia nascente contra a nobreza e o clero, também estavam nos corações e nas mentes dos comunistas, mais de duzentos anos depois, durante a Revolução Russa.

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