Sinais misteriosos
Não é à toa que a terapêutica freudiana tem a palavra como instrumento. Palavra dita, de preferência, durante um sem-número de sessões.
Na forma escrita, ela também pode melhorar personalidades. Tanto é que o desvio sempre chega romanceado às futuras gerações, transformando-se, no correr do tempo, numa espécie de charme indispensável para a construção de um gênio literário.
Mas a escrita, mesmo que o escritor jamais publique uma linha, pode significar a cura de muitos males psicológicos.
Eu mesmo, um caso típico de sociofobia, estou em franca recuperação.
Escritor de nascença, percorri o caminho fácil que do pediatra passa pela Mãe Joaquininha, benzedeira de renome — sim, trata-se, aqui, de uma versão tupiniquim de Wood Allen — e naturalmente termina no divã do analista, para, só depois de ter levado a sério a escrita, viver os primeiros indícios de sanidade.
Apesar dos avanços, mantenho os pés no chão. Sei muito bem que não existe milagre ou panacéia. Certos aspectos da minha sociofobia são incuráveis. Quando estou com alguém, por exemplo, sinto que a pessoa responde a determinados sinais, algo como um letreiro vermelho, que apaga e acende, informando-a particularmente sobre o instante preciso no qual termina um ato e começa outro.
Da minha parte, nunca sei quando é o momento certo de representar. Falo as verdades que a realidade merece. Sofro. Passo por imaturo. Talvez por não dominar a arte da hipocrisia; pré-requisito, eu sei, pois todo o mundo maduro e civilizado parece dominar essa técnica.
Sendo assim, escrever não é nada. Toda a paciência, o comprometimento e a solidão necessários para mentir escrevendo nem se comparam à dinâmica do teatro, uma criação coletiva, simulação da vida por excelência.
Melhor, então, ter nascido ator! Só assim viveria em dois universos distintamente apartados e não me sentiria tão confuso a respeito de quando e onde parar... ou recomeçar a encenação.